
No início de abril, todo o País chocou-se com o ataque registrado em uma creche em Blumenau, Santa Catarina, que resultou no óbito de quatro crianças. Na mesma medida em que a indignação pelo acontecido aumentava entre os brasileiros, um sentimento de insegurança crescia na mesma proporção entre pais e alunos, fruto de uma rede de boatos e falsas ameaças sobre novos ataques. Os lamentáveis fatos geraram um intenso debate em todo o País, que envolveu várias camadas da sociedade.
Na esteira dessas discussões, a Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) divulgou o “Manifesto das instituições particulares de ensino pela valorização da vida e da escola”.
No documento, a entidade fez uma enfática defesa do ambiente escolar e convocou as famílias para se unirem às escolas – que são “lugares sagrados”, conforme a nota. “É importante reforçar que a educação é uma atividade exercida em conjunto com as famílias”, defende o manifesto.
A nota ressalta que a sociedade está “adoecida” e admite que a violência nas escolas é uma “realidade preocupante”. De acordo com a Federação, as escolas particulares têm se empenhado em aumentar a segurança nos colégios para transmitir tranquilidade para toda a comunidade escolar. Entretanto, o documento deixa claro que a instituição é contra a presença de profissionais armados nas escolas e a instalação de detectores de metais ou portas giratórias.
“Nós realmente achamos que não vamos combater a violência com mais violência”, afirma o Bruno Eizerik, presidente da FENEP. “Nós entendemos que da porta pra fora, quem deve se preocupar com a segurança são os órgãos de segurança pública. Da porta pra dentro, a escola tem a responsabilidade com a segurança, mas não concordamos com essas medidas”, esclarece.
Na visão da FENEP, a medida mais eficaz é incentivar a cultura de paz nos ambientes escolares e conscientizar toda a sociedade sobre o valor da vida e da escola. “Ações e atitudes que resgatem uma educação que ensina a respeitar as diferenças, a ser empático e a resolver conflitos de forma pacífica” são algumas das medidas defendidas pela entidade.
O PROBLEMA ESTÁ FORA DAS ESCOLAS

“O que acontece nas escolas é o reflexo na sociedade”. É assim que a diretora do Centro Educacional Paineira, Oswana Fameli (foto), define os fatos registrados nas escolas nos últimos meses.
Com décadas de atuação na Educação, Oswana – que também já foi presidente da Associação das Escolas Particulas (AESP) do Grande ABC – é mais uma educadora que se coloca contra detectores de metais ou vigilantes armados nas escolas.
“Todas as escolas têm a obrigação de vigiar da porta para dentro e todas elas já possuem esses protocolos e mecanismos de segurança, de primeiros socorros. Mas esses protocolos não podem se transformar em protocolos antiterroristas. Onde vamos parar? Estamos formando jovens guerreiros?”, argumenta.
Ela também acredita que o maior envolvimento das famílias na formação das crianças é fundamental para a consolidação da cultura de paz nos ambientes escolares e para transmitir valores como empatia e solidariedade. “A gente trabalha com famílias. As crianças ficam nas escolas, mas a gente trabalha com famílias. Elas têm que participar”, explica.