Na “era dos compactos”, mini-terrenos viram aposta de incorporadora

Rezende Empreendimentos aposta em opção mais rentável para aumentar VGV; terrenos menores são os mais procurados nas regiões nobres de São Paulo

Bairros tradicionais e bastante habitados muitas vezes não conseguem acompanhar o desenvolvimento da cidade. Algumas áreas são até inabitáveis pelo número de casas deterioradas ou galpões pequenos encruados no meio de edifícios comerciais, com um poder de habitação maior do que o frequentado. Esses espaços, que não interessam às grandes incorporadoras, são a nova aposta da Rezende Empreendimentos Imobiliários, fundada há 44 anos e que agora passa a adotar uma nova estratégia de negócio: investir em mini-terrenos.

Um dos setores que mais rapidamente se recuperou na pandemia foi o imobiliário. Enquanto muitos apostavam numa retração, levantamento da Datastore – empresa de pesquisas para o mercado imobiliário – aponta que 14,5 milhões de famílias de todo país têm intenção de compra nos segmentos popular, médio padrão e alto luxo. De acordo com outro estudo do Sindicato da Habitação (Secovi), o primeiro semestre deste ano registrou 27.114 unidades lançadas somente em São Paulo. Esse número supera o recorde anterior dos primeiros seis meses de 2019.

Rio de Janeiro – O prefeito Eduardo Paes inaugura sala de visitação do Museu do Amanhã, em construção no Pier Mauá, na zona portuária do Rio. Na foto o canteiro de obras do Museu do Amanhã.

E é de olho neste “boom” de lançamentos que a Rezende busca se reinventar junto aos concorrentes, pois ao identificar a dificuldade na formatação de áreas já dominadas pela concorrência, a incorporadora, agora, tem buscado áreas menores que as grandes jamais demonstraram interesse. “Empreendimentos de R$ 150 milhões, R$ 200 milhões estão com as grandes construtoras e incorporadoras listadas em bolsa que têm capacidade de investimentos maior do que a nossa. Nosso interesse é procurar terrenos menores em bairros mais valorizados, próximos de linhas de metrô. Por uma posição da Rezende e uma característica do mercado, acabamos voltando as nossas atenções para um tipo de terreno que há anos não analisávamos mais, pois estávamos disputando o mesmo mercado que as grandes incorporadoras”, conta Guilherme Rezende, diretor executivo da empresa.

Assim, a Rezende se posiciona no mercado com o objetivo de inovar e crescer em um ambiente ultra inflamado de empreendimentos. Com o devido respeito ao plano diretor de cada região, a empresa visa transformar essas áreas em empreendimentos residenciais menores para empreendedores, profissionais liberais, especialistas do mercado financeiro, médicos, enfermeiros, entre outros, corrigindo um problema da sociedade paulistana.

Segundo o diretor executivo, além de ser uma tendência no mercado imobiliário, a compra de mini-terrenos traz vantagens como a promoção de benefícios locais e obras menos prejudiciais à região. “A filosofia é trazer a vida das pessoas para perto delas, sem fazer com que atravessem a cidade. As pessoas buscam economizar tempo, por isso, vão optar por apartamentos menores, ter uma vida social, pessoal e profissional ocorrendo no mesmo ambiente”.

Objetivos para 2022


O objetivo da Rezende Empreendimentos para os próximos anos é crescer nessa linha de produto já desenvolvida, saindo dos atuais R$ 170 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV) chegando em uma média R$ 200 milhões e R$ 250 milhões em VGV. “Queremos fazer esse montante em quatro ou cinco empreendimentos, ou seja, a gente vai dividir os nossos lançamentos em empreendimentos com VGV que gire em torno de R$ 50 milhões a R$ 60 milhões, que é justamente onde as grandes não entram”.

Novo conceito: mobilidade no pós-pandemia


Os empreendimentos incorporados pela Rezende devem estar próximos às estações de metrô, adaptando-se ao novo Plano Diretor da cidade de São Paulo – que visa adensar locais onde exista infraestrutura urbana e mobilidade. “Esses terrenos estão em zoneamentos que permitem um coeficiente maior de aproveitamento. Por isso, é possível comprar um terreno de 800 metros quadrados, por exemplo, desenvolver um projeto e viabilizar o empreendimento mesmo com a alta do custo da construção”, explica o executivo.

Todo esse movimento começou com a adaptação do Plano Diretor e ganhou força com a mudança cultural da população em termos de locomoção – maior uso de metrô e ônibus, além do maior uso das bicicletas e patinetes. “As grandes empresas não têm mais interesse em VGVs que giram em torno de R$ 50 milhões, isso acabou sendo a oportunidade identificada e mergulhamos de cabeça para desenvolver esses empreendimentos de caráter exclusivo e de alto padrão para um dormitório”.

Os novos empreendimentos da Rezende seguem a linha do Plano Diretor da cidade pois praticamente não têm vaga de garagem, mas irão contar com vagas para bicicletas. “A expectativa é de que 90% dos moradores desses prédios vão conviver com a cidade exatamente conforme o plano diretor pensou: se locomovendo por meio de metrô e bicicletas. Esses empreendimentos vão contar ainda com estrutura de carregamento para patinetes e bicicletas elétricas”, assegura Guilherme.

Empreendimentos de caráter exclusivo


O projeto arquitetônico que conecta com a questão estética da cidade também mostra o diferencial do mais novo produto da Rezende. “Temos um cuidado especial com as fachadas e entradas dos empreendimentos, com o convívio que o empreendimento tem com a rua e com a cidade; a fachada ativa – que são as lojas e comércio que fazem papel de uso misto do próprio empreendimento, isso é uma característica bem interessante que acaba contribuindo com o aspecto urbanístico e até estético da cidade”.

Com lançamento marcado para dezembro, o Ara Faria Lima traduz a grande inovação de conceito de produto da empresa ainda em 2021. Trata-se de um empreendimento cujos apartamentos são mais compactos, como estúdios ou com um dormitório. Na visão do diretor executivo, os condomínios-clubes ainda têm um grande apelo comercial. “Eu também acredito nesse tipo de produto, mas para formar essa área – cerca de dois mil a três mil metros quadrados – está ficando cada vez mais difícil por dois motivos: escassez de áreas livres desse tamanho na cidade de São Paulo e pela concorrência das incorporadoras de capital aberto”, revela o executivo.